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Texto de Arnaldo Branco

Quando Fernando Collor de Melo ganhou a eleição, em 1989, muitos estranharam que um sujeito evidentemente perturbado tivesse iludido 33 milhões de eleitores. Assim como várias pessoas até hoje tentam entender como a novela Carrossel conseguiu audiência considerável quando foi exibida pelo SBT. Mas o que ninguém sabe é que a explicação desses dois fenômenos é a mesma: mensagens subliminares.


Ninguém, a não ser talvez adeptos de teorias da conspiração, leva a sério o tema. Mas as mensagens subliminares existem, têm um importante papel na história da TV brasileira e explicam muita coisa. A passividade do brasileiro, por exemplo: durante a última entrevista coletiva com Dunga definindo a escalação da seleção brasileira, os televisores exibiram em intervalos regulares de microsegundos - imperceptíveis para o olho humano, mas registráveis pelo cérebro - a legenda "CALMA". E, eventualmente, o conselho "NÃO FAÇA NADA DE QUE POSSA SE ARREPENDER DEPOIS".

Se em 1964 ninguém pegou em armas para tentar impedir o golpe militar em curso foi porque - entre outras particularidades da conjuntura nacional - programas de TV favoráveis ao levante, como o de Hebe Camargo, Flávio Cavalcanti e do Palhaço Carequinha fizeram passar o letreiro piscante "JÁ ERA, COMUNAS" durante suas transmissões. Muitos militantes de esquerda e simpatizantes do governo João Goulart lembram de uma leve sensação de desânimo e da perda temporária de suas convicções políticas. Quando se recuperaram do torpor, a TV já exibia a leitura do Ato Institucional número 2 (acompanhado da mensagem nas entrelinhas "É ISSO AÍ MESMO") e era melhor correr e se esconder.

E há vários outros exemplos da interferência do tubo catódico no curso da História. Por exemplo, muitos recordam um certo sentimento de esperança idiotizada na época da eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. A explicação está no vencimento da concessão dos militares para governar o Brasil junto às redes de televisão, que repassaram o direito de exploração de imagem para a Frente Liberal, coligação dos partidos de oposição com os dissidentes dos partidos da situação. A legenda mais exibida na época nos aparelhos televisores era "ESPERANÇA", daí a crença desmedida em tudo, inclusive na versão de que a doença do presidente recém-eleito era uma bobaginha qualquer no divertículo de Merkel.

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