revistas | Monet | ed. Globo | Ed. 86


Texto de Arnaldo Branco

Todos sabem que as escolhas editoriais dos telejornais se dão em função do tamanho da tragédia, na ordem descrescente. Mas existiu um que tentou fazer diferente: ao invés de explorar a desgraça, quis tentar atrair audiência só falando de coisas boas, e falhou miseravelmente.

Na época já existia o clichê "boa notícia não é notícia", mas a idéia era mesmo apelar para o escapismo e para as pessoas que costumam responder em pesquisas do Ibope que só ligam a televisão "para não esquentar a cabeça". Como se vê, sempre se mentiu muito para os institutos de opinião.

Boa nova, com esse nome de programa evangélico, era o telejornal bem intencionado da TV Excelsior. Para se ter idéia da seriedade da proposta, era apresentado pelo casal Eva Wilma e John Herbert - desempregados como o terno casal da série Alô Doçura - e seu diretor de jornalismo era Dom Hélder Câmara. Mas a fórmula começou a desandar já na primeira transmissão.

Pra começar, os idealizadores do noticiário não previram como seria difícil achar boas notícias com apelo televisivo. Se deram conta que algumas delas tinham periodicidade anual, como a chegada do verão e o fim das turnês da Wanderléa, e outras só aconteciam uma vez no período de uma vida (passagem de cometa, título do América).

Os produtores também esqueceram que a boa notícia de uns pode ser a tragédia de outros. Matérias sobre redução de impostos em mercadorias provocavam ligações iradas de atravessadores que tinham suas margens de lucro reduzidas. Uma matéria sobre um projeto social que dava livros a quem entregasse armas para serem transformadas em brinquedos pegou mal entre empresários da indústria bélica, caras bastante populares nos anos da ditadura.

No lugar de Boa Nova entrou um programa de entrevistas com celebridades da época. Se boa notícia não era notícia, a nova atração provou também que nenhuma notícia também podia ser notícia.

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