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Texto de Arnaldo Branco

Programas do tipo cupido eletrônico, em que almas solitárias e algo desesperadas pagam mico para encontrar um par existem aos montes. Mas um programa correlato quis inovar, mostrando o doloroso processo de separação de um casal pelos números de audiência.

"Divórcio na TV", com esse nome que parodiava um programa famoso de namoro ao vivo era uma atração bem apelativa. A produção convocava casais que estivessem pela bola sete a se apresentar na emissora (Record) com a promessa de arcar com os custos do processo legal - o que formava filas gigantescas no edifício-sede.

Detetives eram contratados para encontrar provas de infidelidade ou negligência conjugal (recibos de motéis, relatos de vizinhas fofoqueiras) que eram apresentadas em um auditório, com as câmeras filmando a reação do parceiro traído e/ou maltratado e as explicações do adúltero e/ou insensível.

Os advogados davam um espetáculo à parte, usando a mesma teatralidade que ostentam nos tribunais, com a diferença que em "Divórcio na TV" eles procuravam as câmeras para tirar mais efeito das frases em latim. Mais de um participante caiu em prantos (ou voou no pescoço do causídico) ao ouvir algum termo jurídico obscuro com pinta de xingamento.

As agressões físicas viraram marca registrada. Os cônjuges saíam tanto no braço que os criadores do programa resolveram adotar um cenário acolchoado - embora alguns membros da equipe tenham sugerido um incremento na violência criando um palco em forma de cozinha, com muitos utensílios arremessáveis e perfuro-cortantes.

O programa durou poucas edições. Foi cancelado depois que os primeiros litigantes descobriram que as decisões do juiz de mentirinha do programa não tinham realmente valor para a justiça brasileira. Alguns casais até se reconciliaram, pra não ter que passar de novo pela mesma maratona emocional.

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