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texto de Arnaldo Branco

Todos conhecem Silvio Santos e os programas populares que comandou desde que fundou o Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT. O que não se sabe é que o protótipo do primeiro desses programas não tinha nada de popular.

Tendo sido camelô - e uma rara exceção entre as vítimas da má distribuição de renda no Brasil a superar sua condição do excluído - Silvio Santos era muito sensível ao problema da educação e da mobilidade social. Quando finalmente pôde ter seu primeiro canal de televisão, chamou uma equipe de intelectuais e encomendou uma grade de programação dedicada a levar cultura para todos os brasileiros.

Tudo era pensado em função do valor didático/cognitivo. A sessão de cinema, por exemplo, foi batizada de "Cinefilia" e só passaria filmes europeus e japoneses - americanos, só se dirigidos por John Cassavettes e Andy Wahrol. Mas a pérola era mesmo o programa de auditório de Sílvio Santos, que seria conhecido como Domingo no Campus.

Seus quadros eram um primor. A atração que depois ficou conhecida como Roletrando se chamaria "Pró-mestrando", e sua roleta sortearia prêmios como bolsas do CNPQ e viagens guiadas ao Observatório do Valongo. Nem queira saber que tipo de equações matemáticas cada equipe tinha que resolver no segmento "Passa ou engrossa os índices de repetência?"

O Troca-Letra também era um jogo para tentar descobrir palavras ocultas em um painel, mas com aquela complexidade das Palavras Cruzadas de jornal que só nossos avós conseguem matar - muito em parte porque foram testemunhas dos eventos históricos sobre os quais esses passatempos sempre perguntam.

Show de calouros? Sintam o júri: os maestros Arthur Moreira Lima e Rogério Duprat (para abarcar as vertentes clássica e experimentalista da música erudita) e o Professor Mascarado, que era o membro escalado para fazer as críticas negativas e levar os tomates da platéia - que, pasmem, era interpretado pelo maestro Isaac Karabtchevsky, fazendo a maior questão de participar. A máscara era só para driblar seu contrato de exclusividade com a Rede Globo.

O programa deu errado na primeira edição. Apesar de selecionados entre as melhores instituições de ensino, todos os candidatos fizeram feio: os calouros não sabiam ler partituras, ninguém acertou nenhuma pergunta, não descobriram nenhuma palavra escondida. Silvio percebeu que seria uma roubada financeira apostar na inteligência ou no sistema educacional brasileiro, e mudou um pouco sua estratégia de mercado.

Um comentário:

Fabíola Aquino Coelho disse...

isso é uma perola da historia da televisão brasileira meu caro! adorei!!!
bjos